24 novembro 2010

Teresópolis - uma fábrica de água

Estou lembrando uma coisa que LPF levantou, e que eu devo ter enfatizado mais, sobre a necessidade de monitorar a quantidade da água nos rios. Eu mencionei que Teresópolis é uma “fábrica de água” (excelente frase criado por ZW, se eu lembro corretamente), tendo água saindo do município sem nenhum rio entrando no seu território. Quer dizer, a água de Teresópolis vem do céu, da condensação por causa do clima relativamente fresco, clima que é mantida pela altitude das montanhas e pelas florestas.


Mas os estudos do diagnóstico do Plano Diretor (que por lei precisa ser revista em 2011), feitos em 2005-6, mostram que esta “fábrica” está sendo mal gerenciado. Esta não é uma crítica do governo, atual ou passado, mas é uma crítica da visão geral que virou tradicional no mundo inteiro - que a natureza é tão grande que podemos fazer o que queremos, sem nenhum planejamento, e que tudo vai ficar bem e durar para sempre.

Os estudos citados mostravam que, devido às alterações causadas pelo homem no funcionamento desta “fábrica” (aumento da população e seus usos da água; desperdícios da água, principalmente no tipo de irrigação usada nas plantações na área rural; desmatamento dos morros que devem manter a condensação, e das margens dos rios que devem evitar o assoreamento dos leitos, além de muitos outros fatores), Teresópolis pode faltar água para muitos fins dentro de 10 anos (quer dizer, até 2015, que agora só falta 5 anos).

Na realidade, esta falta já acontece nos bairros urbanos localizados nos morros mais altos – a quantidade de água captada para abastecer os moradores não atinge todas as casas todo dia, especialmente nos fins de semana e na época de férias, quando tem mais consumidores na cidade. Na reunião, a Dra. Anaiza citou uma situação em que Teresópolis ficou com reservas de água que iam acabar em 8 dias, se não teve mais chuva.

O fato é que a demanda para água em Teresópolis já excede a produção natural e a captação artificial desta água. Em 2006, produtores rurais já estavam reclamando que a água nos seus poços estava abaixando cada ano – quer dizer, a água que deve ser absorvida na terra para recarregar o lençol freático estava diminuindo. As causas desta recarga insuficiente incluem a impermeabilização do solo com asfalto e casas na área urbana, assim mantendo a água da chuva na superfície do solo, todo indo embora sem ser absorvido e assim causando enchentes e deslizamentos; o aumento nos usos da água subterrânea; e de novo, o desmatamento que tira as árvores cujas raízes seguravam a água no solo.

Sabemos que a oferta da água está diminuindo, enquanto que a demanda para esta água está aumentando. Mas não temos dados suficientes para entender a situação mais clara e precisamente. Assim, podemos entender melhor a necessidade urgente e constante de acumular, organizar e interpretar os dados sobre a quantidade da água em nossos rios. Além deste motivo, temos mais um, que já foi discutido mais amplamente – de determinar a qualidade da água nestes rios, sabendo quanta água está misturada com os vários tipos de poluição que entram nos rios: o esgoto, os agrotóxicos, os efluentes industriais e dos postos de combustível, o chorume dos aterros, lixões, cemitérios, hospitais e outros focos de contaminação. Espero que, levantando e juntando as pesquisas existentes sobre nossas águas, vamos ver que já temos uma boa base para entender melhor nossa situação e identificar medidas para inverter este balanço hídrico negativo, e que podemos melhorar esta base mais ainda com monitoramento constante e ampla dos nossos rios.